domingo, 9 de outubro de 2011

Diário de Bordo – n°10



É realmente estranho o nascimento de um filme e a concretização dele. Outro dia eu havia comentado com um amigo que minha impressão era que meu filme (O Forasteiro) tinha vida própria, pois eu percebia que passado algum tempo minha mente retomava esse assunto e o processo criativo do filme se reiniciava... então, às vezes eu imaginava alguma solução para determinado conflito em relação ao prosseguimento do projeto, e tudo parecia estar ok, porém não se concretizava pelo viés escolhido. Daí eu realmente percebi que o filme tem vontade própria. Lembro-me que quando eu comentei isso, caminhávamos na rua, e meu amigo riu.

E mais recentemente eu pude acreditar nesse sentimento de “vida própria” do filme. Quando eu escolhia determinado caminho para concretizar a ideia do curta-metragem ele fluía ou não fluía... foi um aprendizado meio difícil pra mim. Compreender que eu deveria ser mais sutil do que costumava NÃO ser, entrava em conflito direto com minha maneira racional de desencadear meu raciocínio. A Arte é raciocínio, porém bem mais inspiração. O raciocínio norteia o artista a compreender, aprender a utilizar as ferramentas disponíveis e também a linkar essas ferramentas para o objetivo final de dar à luz a ideia primeira que o iluminou – sua obra artística.

Enquanto que a inspiração está de mãos dadas diretamente à potencia da criação, e esta ultima requer disponibilidade total da sensibilidade do artista; aí que o bicho pegava pra mim... Tão acostumada a discorrer num caminho reto e claro, a feitura de um filme após a percorrer esse caminho lógico e prático: planilhas organizacionais; tratamentos do roteiro; escolha de locações; escolha de ângulos; etc e tal; começa a se configurar outra forma tão abstrata de linguagem intrinsicamente atrelada ao criador e sua criatura.

Você “sente” a comunicação como se você estivesse sendo levado a tomar essa ou aquela decisão tendo de compreender rapidamente se a coisa flui como deve ser. E isso ninguém te ensina, ou você aprende fazendo-sentindo-observando-neutralizando a sua vontade, deixando emergir a vontade do filme; ou então o projeto empaca! Você pode ter todos os recursos disponíveis ali à sua mão, mas se não for da vontade do filme a sua tomada de decisão, o projeto empaca... é impressionante. É aqui nesse ponto que o diretor/cineasta torna-se uma ferramenta apenas, e ter a humildade e sabedoria de aceitar isso ajuda as coisas fluírem.

Aí a intuição começa a tomar outra função: algo como uma espécie diferente de ordenação das coisas: uma organização imaterial, invisível, mas que será a principal porta de acesso para a finalização do filme. Chega a ser comparado à magia como nos contos de fadas; e é nesse momento que sua obra não mais lhe pertence... é o Belo nascendo pelas suas mãos, e ele suspira, e pulsa, e começa a caminhar com as próprias pernas... é quando a obra de arte começa a respirar não mais através de seu artista-criador. A obra de arte não mais lhe pertence: pertence ao mundo; e aí o artista já cumpriu sua função – traduzir o inteligível.

Também cheguei a comentar com outra amiga, que durante o período de montagem d’O Forasteiro, quando o esqueleto narrativo do filme estava ordenado em sequencias; colocada a sonoplastia; os efeitos; etc, quando tudo já estava mais ou menos no lugar, a sensação que eu tinha era que aquilo ali não era meu, era um completo estranhamento. A sensação que eu tinha era como: eu via algo que não tinha saído da minha cabeça, mas que ao mesmo tempo condizia com a ideia nebulosa do filme que eu imaginava ainda meio embotada lá no início do processo criativo; pois do conto que inspirou ideia do filme, até o nascimento de fato do filme, muita coisa aconteceu: fui cedendo da ideia original do roteiro; fui dando lugar a novos movimentos de câmera; fui abrindo mão de recursos de edição que dariam maior plasticidade à narrativa; para dar voz a vontade do filme.

Todo esse caminho servia para não se perder a essência e sim alcançá-la e transportá-la para esse suporte artístico, que no caso é o audiovisual. Realizar um filme é entrar em estado de Graça, compartilhá-lo com toda a equipe. Lembrando que todos têm uma compreensão diferente do roteiro; e é aí que o diretor deve estar atento para ouvir a voz das pessoas, pois numa dessas vozes pode vir a voz do filme em nascimento. E estar com os canais abertos para essa intuição te alcançar é que é o processo difícil e fatigante. Você vira uma balança, um medidor de tantas sugestões acerca do filme e ter a fluidez de destilar essas informações, ordená-las rapidamente e coloca-las em prática dispensa muita energia mental. E o importante é não se distanciar da essência da obra, e esse processo é exaustivo. É impressionante como o filme te suga! Como o processo mental pode chegar a picos de realização e cansaço num piscar de olhos.

“Ouvir” a voz dessa linguagem tão complexa e enigmática que é a linguagem cinematográfica é muito complicado. Mas a essa linguagem que eu me refiro não é a linguagem cinematográfica já prontinha na telona, e sim a linguagem que o filme sussurra para seu diretor. Parece loucura, eu admito... mas isso acontece. Estive por esses dias comentando isso com outro amigo meu que está finalizando as ultimíssimas filmagens de seu longa-metragem, e ele compreendeu o que eu falava, pois ele já “sentia” esse processo se apossando dele. É incrível! Acho que o cineasta é o artista que mais sofre juntamente com o escritor durante as etapas de concretização de sua obra.

O que eu trago para meu crescimento pessoal é procurar estar mais atenta a essas “vozes” no meu cotidiano, e também procurar ser mais humilde em aceitar o ritmo de trabalho de cada pessoa da equipe. Estou consciente que não é fácil acompanhar meu processo de trabalho-criativo, mas às vezes o afã vem avassaladoramente; estou aprendendo a dosar essa energia criadora adequadamente à ferramenta do meio da qual ela se utilizará através de minhas ações, pois essas ferramentas às vezes não são impessoais, às vezes são indivíduos que manejam um equipamento ou aplicativo onde eu apenas coordeno. Aproveito para me desculpar publicamente mais uma vez ao editor do meu curta-metragem, pois eu suguei a alma do coitado num ritmo tão intenso e acelerado... mas, felizmente Wesley conseguiu realizar tudo conforme as coordenadas, mesmo sendo estas contrárias à compreensão lógica e gosto pessoal dele, ele as executou com muita competência.


Katiuscia de Sá
10/10/2011
01:30 A.M.

sábado, 1 de outubro de 2011

Campanha de arrecadação

Livro “CIDADE VELHA, CIDADE VIVA”
*Valor simbólico: R$25,00


Visando finalizar a etapa de pós-edição, estamos vendendo o livro “Cidade Velha, Cidade Viva”, a fim de arrecadar o valor em dinheiro necessário para a finalização do curta-metragem paraense “O Forasteiro” – um projeto independente.

O livro possui 37 (trinta e sete) registros históricos acerca de um dos primeiros bairros de Belém. É uma ótima oportunidade para dá-lo de presente a parentes e amigos que vieram a nossa cidade para passar o Círio.

O livro “Cidade Velha, Cidade Viva” possui fotos, ilustrações e relatos sobre costumes de época; pessoas ilustres; curiosidades, e muito mais acerca de nossa cidade. É um excelente registro histórico indispensável na biblioteca de todos que amam Belém e desejam saber um pouco mais sobre nossa tradicional “cidade das mangueiras”. Os exemplares foram gentilmente doados para o projeto “O Forasteiro” pela Sra. Dulce Rosa de Bacelar Rocque, presidente do CiVViva.

Para quem mora em Belém e redondezas, basta entrar em contato através dos telefones:
(91) 8419 6700 (CLARO)
(91) 8816 8761 (OI)
(91) 8021 9276 (TIM)
(91) 9277 2248 (VIVO)

Para aqueles que moram em outros estados e desejam contribuir adquirindo o livro, entrem em contato por e-mail:
hellenkatiuscia@gmail.com


*Agradecemos a todos que estão nos ajudando a concretizar esse trabalho. (Equipe O Forasteiro)

SINOPSE DO FILME:
O filme é uma ficção: um rapaz de outra cidade chega a Belém em busca de emprego e de um imóvel para alugar. Ele é abordado por um homem desconhecido que lhe oferece uma casa, mas confere uma recomendação que o forasteiro não cumpre, gerando um mistério. O fio condutor da estória mostra as riquezas arquitetônicas do patrimônio histórico da capital paraense, sobretudo dos casarões dos bairros da Cidade Velha, Campina e Comércio.