quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Curiosidades - 01

A partir desta postagem, seguirão outras contendo parte da história e/ou curiosidades referentes aos bairros da Cidade Velha, Comércio e Campina e adjacências (bairros que são mostrados no curta "O Forasteiro", constituindo a narrativa do filme atraves da visualidade arquitetonica dos casarões de época espalhados por esses bairros da cidade de Belém do Pará).



BREVE HISTÓRIA DO PALACETE BOLONHA
Francisco Bolonha - Desenho e Arte: Katiuscia de Sá

No ano de 1905 o terreno situado à Estrada de São Jerônymo (atual Av. Governador José Malcher), medindo: 14m (frente); 71,04m (lateral esquerda); 87m (lateral direita) e 20,50m (travessa ao fundo), fora vendido ao preço de trinta e dois contos e setecentos e sessenta mil réis, de acordo com a escritura pública do 1° Cartório de Registro de Imóveis de Belém. O lote era de propriedade da Intendência desta cidade, o ilustre Sr. Antonio Lemos, o intendente de Belém nesta época.

O terreno em questão era facilmente corrompido pelas águas inconstantes do igarapé do Reduto, tornando-se um córrego alagadiço durante o inverno belenense, mudando de aspectos no verão, servindo-se de matagal peçonhento e perigoso aos moradores dos arredores. O comprador deste simpático terreno? O engenheiro Francisco Bolonha (1872-1938).

Quase como a lenda da Flor de Lótus, de forte simbolismo espiritual, (flor que nasce das profundezas lodosas e de lama, conferindo vitória e beleza aos olhos mortais), no inicio do século XX ergueu-se naquele local, o Palacete Bolonha. A construção do imóvel realizou-se entre 1905 e 1908. Foi um presente; uma prova de amor...

Francisco Bolonha nasceu em Belém do Pará a 22 de outubro de 1872, filho do coronel Francisco de Paula Bolonha e de Dona Henriqueta Adelaide Rodrigues Bolonha, tendo esta, morte trágica a bordo de um transatlântico quando retornava da Europa para Belém. Uma curiosidade é saber que quando criança, Francisco Bolonha morou no edifício que abrigava o Grupo escolar Floriano Peixoto, que atualmente sedia a Casa da Linguagem – Fundação Curro Velho (esquina da Av. Nazaré com Assis de Vasconcelos). Após um período de viuvez, o Coronel Francisco casou-se novamente, escolhera Dona Augusta de Paiva, tiveram eles dois filhos: Julieta e Benjamin.

O primogênito do Coronel Bolonha fez seus estudos primário e secundário no tradicional Colégio de propriedade e direção do respeitado professor José Veríssimo. Após o termino do ginásio, Francisco Bolonha mudou-se para o Rio de Janeiro, ingressando na Escola Politécnica, ao concluir o curso de Engenharia Civil em 1894, viaja para a Europa objetivando aprimoramento nos estudos. Especializou-se em Hidráulica na Holanda e Inglaterra. Ao retornar para o Rio de Janeiro, casa-se com a pianista Alice Tem-Brink, que não queria mudar-se para Belém. Como promessa e prova de amor à esposa, Francisco Bolonha idealiza e manda erguer na capital do estado do Pará, o palacete e vila que levam seu sobrenome.

O imóvel é uma construção belíssima e delicada visualmente. Bolonha conferiu um bordado raro e de difícil confecção (Barroco), misturando ainda o estilo Rococó e Art-Noveau nas fachadas e interior do palacete de cinco pavimentos ricamente ornados com peças de ferro fundido; azulejos brancos; peças delicadas vindas da Inglaterra; mármores europeus de variadas cores; madeira de lei acapu e ornamentos em alto relevo em gesso pintados a ouro. O imóvel possui até um “mirante” que dá vista tranqüila à Baia do Guajará. Adjunto ao palacete segue-se a Vila Bolonha (toda em estilo francês), um conjunto de casas com igual beleza e riqueza arquitetônica tal o palacete.

O engenheiro Francisco Bolonha contribuiu muito para a urbanização e beleza da cidade de Belém durante a primeira metade do se. XX. Construiu, dentre várias casas particulares espalhadas pela cidade, o Mercado Municipal (atual cartão postal de Belém).

Após a morte de Francisco Bolonha – 08 de julho de 1938, sua viúva, Dona Alice Tem-Brink Bolonha, retorna para o Rio de Janeiro, sendo o palacete e tudo o que no interior dele estivesse, leiloado em novembro do mesmo ano. Neste leilão o imóvel foi comprado pelo senhor Armando S. Chermont e as louças, objetos, quadros, móveis, máquinas, etc, foram vendidos para diversos compradores de Belém e de todo Brasil. Após um tempo, o palacete Bolonha teve outros dois proprietários: os senhores Enéas Labor Barbosa e Antonio Supresto Fonseca.

Para a felicidade e orgulho dos paraenses, o palacete Bolonha foi tombado pelo Departamento de Patrimônio, Artístico e Cultural do Estado do Pará, em 02 de julho de 1982, sofrendo meticuloso restauro tanto o palacete quanto as casas que dão origem à vila Bolonha.

Atualmente o palacete está sob a administração da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), sendo aberto a visitações agendadas, acompanhadas de um guia turístico que traz ao conhecimento público a história e curiosidades sobre esse grandioso imóvel, referencia de beleza e arquitetura de minha querida cidade de Belém do Pará.


Katiuscia de Sá
15 de agosto de 2010
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*Mais informações/ Fonte:

LOBATO, Célio Cláudio de Queiroz; RAMOS, Euler santos; RAMOS, Aurea Hellyete Gomes – “Palacete Bolonha – uma promessa de amor”, Belém: EDUFPA, 2007.

MARANHÃO, Haroldo, “Pará, Capital: Belém”, Belém: Supercores, 2006.

SANTOS, Carlos Correia. Grandes Paraenses/ Francisco Bolonha, A Província do Pará, Belém, 21.01.2001.

BASSALO, Célia, “O Art-Noveau em Belém”, Belém: Grafisa, 1984.

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