sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DIÁRIO DE BORDO - parte 01


DIÁRIO – 1º dia de filmagem


As filmagens iniciaram no dia 1º de agosto de 2010. Começamos pelo Porto do Arapari. A equipe nesse dia era formada por: Thiago Losant, Carol Dominguez, Verônica Lima, Vivian Santa Brígida, Emerson Almeida, Marck Lobato, Cezar Moraes e eu. No Arapari, filmamos na plataforma de desembarque, na rampa de acesso, no hall e na rua. Com bastante antecedência, visitei esta locação, pelo menos umas cinco vezes (primeiro para conhecer o lugar e saber se ele se encaixava com a proposta da narrativa do filme; segundo para explorar o ambiente, os ângulos que eu queria e a fotografia; e terceiro: para explicar ao operador de câmera, o que eu tinha em mente para aquela locação. As demais vezes foram para entrar em contato com a administração do Porto e explicar sobre meu projeto de filmagem, já apresentando o ofício. Fui muito bem recebida pelo Sr. Josimar que encaminhou meu pedido para a administração do lugar, a resposta foi favorável e as filmagens no Porto transcorreram tranquilamente).

Após feitas essas imagens, visando ganhar tempo e agilizar o processo de filmagem desse dia, eu e o operador de câmera adiantamos uns “inserts” enquanto Thiago descansava das cenas feitas no Arapari e também enquanto a maquiagem do Emerson era finalizada; em seguida reunimo-nos novamente com a equipe e os atores Thiago Losant e Emerson Almeida percorrendo algumas ruas do centro Histórico de Belém. Filmamos as seis cenas previstas para aquela manhã, mais os “inserts”.



DIÁRIO – 2º dia de filmagem

Recomeçamos as filmagens, no dia 26 de agosto de 2010, a locação era a casa da atriz Nilza Maria. Reuni com Nilza e Thiago, dois dias afim de conversarmos sobre o filme, para dar as indicações necessárias para que os atores compusessem seus personagens, também para ensaiarmos as cenas. Num desses dias a Verônica (responsável pela Arte\cenário do filme) também esteve presente, expliquei-lhe o que eu desejava da cena e daquela locação, Verônica captou muito bem o que eu tinha em mente, chegamos mesmo até compormos juntas parte do cenário com sugestão de móveis, objetos, etc.

No dia da filmagem, Verônica Lima, Vivian Santa Brígida e eu chegamos cedo para prepararmos o cenário. Tivemos auxílio imprescindível dos familiares de dona Nilza que nos ajudaram com o empréstimo de objetos de cena; móveis; utensílios; e também com apoio técnico deles. Foi um dia muito divertido para todos. Dos dias que já filmamos, esse dia na casa de dona Nilza foi o mais alegre e agradável de todos. O clima leve e descontraído contribuiu muito para amenizar o cansaço de alguns membros de minha equipe.

Ficamos nessa locação o dia inteiro. Como eu já sabia, com antecedência, o que tirar das cenas e ainda fiz mais dois ou três ensaios no dia com os atores, antes das filmagens das cenas que eles fariam. O processo ficou muito ágil, e tudo deu certo, até o cachorrinho de estimação de dona Nilza participou. E no final, quando “arrumamos” novamente os móveis em seus lugares de origem e fomos lanchar, a surpresa da equipe em ouvir a frase de dona Nilza: “hoje foi um dia especial para mim. Foi a primeira vez que eu abri minha casa para fazer um trabalho cênico”. O engraçado foi observar a naturalidade com que todos na casa agiam conosco indo para cima e para baixo retirando móveis, nos olhando embalando coisas; arredando móveis, guardando coisas em outros cômodos para limpar a parte da casa que nos serviria de locação... achamos que essa rotina era “normal” para todos da família de dona Nilza, pois eles foram tão generosos e também se divertiram com tudo, que realmente eu e minha equipe achávamos que isso já havia acontecido antes.



Após essa surpresa, novamente agradeci a todos pela ajuda e principalmente pela empatia e confiança que dona Nilza depositou em mim. Tê-la conhecido pessoalmente e convivido com ela intensamente durante alguns dias, foi mágico. Nilza Maria é uma pessoa extraordinária, de uma simplicidade e sabedoria impressionantes! Pegando emprestadas as palavras dela, “esse dia também foi muito especial para mim”.



DIÁRIO – 3º e 4º dias de filmagem

De acordo com o pedido do oficio emitido à Fumbel, tínhamos a nossa disposição três dias naquela locação. O primeiro foi para a equipe e eu olharmos as salas do palacete Bolonha e para o João Pedro verificar as possibilidades de luz natural para as cenas, e para eu ver também os ângulos de cena que eu queria. Após essa vistoria, as filmagens prosseguiram durante os dias 04 e 05 de setembro de 2010. Para mim, particularmente foram os dias mais cansativos – até agora – durante todo o processo de “O Forasteiro”. Como estou acumulando tarefas dentro da equipe (Direção Geral; Produção Executiva, Direção de Fotografia, e Continuista), em algum momento o cansaço se faria presente. Mesmo com o auxilio de Verônica e de Vivian junto à produção, o acumulo de tarefas está sendo demais. Compreendo que deveria haver pessoas para essas determinadas funções, mas não encontrei gente responsável e engajada no projeto. A saída foi distribuir tarefas com pessoas na equipe que eu percebi que estavam com vontade de realizar o projeto do curta metragem.

Intercalando as filmagens na casa de dona Nilza e no Palacete Bolonha, consegui o Apoio Cultural da FIEPA e da SOL INFORMÁTICA. A equipe de “O Forasteiro” agradece muito os Apoios Culturais saborosos e nutritivos da PANIFICADORA & DOCERIA CAMÕES e da doceria ETI MARIQUETI.



A DINÂMICA

Sobre meu processo como diretora gostaria de registrar minha relação com os atores e com a equipe técnica do filme. Com os atores minha relação oscila entre a amizade e o profissionalismo. A minha decisão para a escolha dos atores Thiago Losant e Emerson Almeida deveu-se basicamente à minha relação e convivência com eles durante o processo anterior no audiovisual que participei, (projeto “Eva Faz de Conta”). Percebi que o Emerson é centrado nas coisas que faz, tem um temperamento afável e também denota certa responsabilidade (o que para mim é até mais importante e decisório para a escolha das pessoas que farão parte da equipe em meus projetos). Thiago além de talentoso, é responsável e esforçado, sabe ouvir o diretor, sabe “ouvir” seu personagem, troca idéias, é honesto e é sincero em seu jogo cênico.

Eu tive experiências anteriores como atriz, e não gostei e não concordo com o modo de alguns diretores que depreciam, tiranizam e amedrontam o ator com a finalidade de “tirar” o seu melhor... não é lógico conseguir o melhor de alguém maltratando-o... Observo freqüentemente que o resultado dessa abordagem desonesta enfraquece o caráter; “vicia” o jogo cênico e traz insegurança ao ator, além de deixar seqüelas psicológicas, que muitas vezes são (ou serão) amenizadas com o auxilio de algum vício (álcool, drogas, sexo desenfreado, etc...), utilizados como válvulas de escape pelo profissional da cena.

Mediante minhas observações no período em que trabalhei como atriz, eu decidi agir diferente no trato com os atores quando eu estivesse na condição de diretora. Esforço-me para deixar os atores à vontade para pensarem e experimentarem “sem traumas” as possibilidades deles de interpretação durante o processo. Primeiro converso bastante sobre a história do filme, depois costuro algumas características psicológicas das personagens e digo aos atores, esse procedimento os ajuda na construção da personagem. E antes e durante o Set faço breves ensaios com os atores. Às vezes nos ensaios no Set, combino com o operador de câmera, para filmá-los e quando eles terminam seus “ensaios”, comunico que já finalizamos a cena. O resultado é muito bom, a espontaneidade e naturalidade conseguida dos atores são maravilhosos. Nesse sentido, eu simpatizo muito com a condução e estilo do diretor e ator de cinema norte americano Wood Allen.

E com a equipe técnica, a dinâmica da convivência é primordial para o sucesso ou fracasso do projeto. Como falei anteriormente, os critérios de escolha dos profissionais que estarão comigo vão muito além do “talento”, da “capacidade”, e do “tempo de experiência”. Se no convívio interpessoal eles não estiverem em harmonia com, pelo menos, 90% das pessoas que compõem a equipe do projeto, eu prefiro dispensá-los. Tenho consciência de que nem tudo é um mar de rosas, existem pequenos atritos e dificuldades durante uma produção num todo, isso é normal... mas estes são justamente amenizados pelo fato da dinâmica da convivência ter se tornado algo agradável para todos – questão que verifico bem antes de compor a equipe que trabalhará comigo. Prefiro pessoas de temperamento tenro; educadas; bem intencionadas; sinceras; cultas; civilizadas, honestas, sem “vaidades”, sem “mesquinharias” e sem “rivalidades”, com seus colegas de trabalho. Geralmente essas qualidades são difíceis de encontrar num profissional, mas quando verifico ao menos três ou mais delas em uma mesma pessoa, faço a escolha, e durante o processo vamos todos nos burilando. Mesmo pessoas talentosas e brilhantes são prejudicadas pela sua indolência...

Já fiz algumas oficinas de Produção Cultural, e alguns cursos de Gestão de Pessoas, (aqui entram também minhas experiências de convivência em grupo) e há pontos em comum em todas as orientações a respeito de liderança de equipe: a EDUCAÇÃO – CONFIANÇA – RESPEITO devem permanecer mesmo diante de pessoas insolentes e invejosas que por ventura estejam gerando desavenças dentro do grupo, pois a própria maneira de conversar com elas sobre questões rotineiras dentro do trabalho as fará compreender suas atitudes, abrindo caminho para que elas próprias meditem sobre sua conduta. E se o “ruído” permanecer mesmo após a chamada de atenção, realmente minha decisão é de desvincular essa pessoa da equipe, substituindo-a, na certeza que jamais farei trabalho com esse individuo novamente. Há também meu critério pessoal de seleção (que se torna decisória) de eliminar o “mal pela raiz”... Além do já dito, confio muito na minha intuição e poder de percepção do ser humano, eles raramente falham...


Outra coisa que estou achando bárbara é conhecer pessoas diferentes, que me enriquecem com suas histórias de vida, seus comportamentos, sua cultura diversificada e vivência... posso ressaltar que de todo processo vivenciado dentro do projeto “ Forasteiro”, o que levarei comigo para sempre, são essas pessoas incríveis que conheci pelo caminho que de algum modo, e de acordo com suas possibilidades, comungaram comigo para a realização de meu projeto. Agradeço a Deus por essa oportunidade de crescimento.

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